11 de março de 2009

UMA HISTÓRIA COM PALAVRAS, António Fanha

Era uma vez um livro de histórias cheio de letras como todos os livros. estava guardado na prateleira de uma estante, num armário ao fundo de uma casa e há muito tempo que ninguém lhe pegava para o folhear e o ler.
As palavras estavam para ali muito alinhadinhas mas fartas de estar fechadas nas páginas do livro, sem ninguém que as lesse e as dissesse em voz alto, e lhes permitisse espreguiçarem-se e darem uma voltinha para estender as pernas.
Não é de admirar que um dia, as letras que formavam a palavra borboleta tenham começado a tremelicar, a chocar umas com as outras e, de repente, a palavra borboleta tenha saído do livro a voar.
Atrás dela seguiu a palavra foguetão que não quis ficar para trás e, num instante, entrou em órbita.
Entusiasmada, a palavra canguru saltou de página em página até saltar também do livro para fora.
E muitas outras palavras seguiram este estranho exemplo.
A palavra cavalo lá se foi, naturalmente, a galope. A palavra fervura ferveu e desapareceu numa nuvem de vapor no ar. A palavra gelado derreteu-se. A palavra sapato disse que precisava de umas meias solas e pôs-se a andar.
Cada palavra lá foi andando da maneira que pôde. Mesmo palvras pesads como gordo, ou lentas como caracol, com maior ou menor dificuldade, acabaram por escapar do livro. E foi assim que, a pouco e pouco, as páginas foram ficando em branco e o livro vazio e sem histórias para contar.
No meio daquelas páginas todas só tinha ficado a palavra lápis que se sentiu muito triste ao ver-se ali sozinha.
Por isso, pôs-se a inventar uma história e começou a escrevê-la cheia de palavras redondas, quadradas e bicudas, umas mais magrinhas, outras barrigudas.
E escreveu palavras e palavras a rodo e, assim, acabou por encher de novo o livro todo.


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