8 de março de 2009

No voo de uma palavra, José Jorge Letria






Um dia juntei todas as palavras

que já aprendera e

busquei para elas novos sentidos,

novas maneiras de soar e de voar

até ao coração dos homens.

Censuraram-me por tê-lo feito

e houve até quem me dissesse:

"As palavras são o que são

e procurar para elas novos significados

é pura perda de tempo e ofensa aos deuses."

Eu não lhes dei ouvidos

e continuei a escrever, aprendendo

o sabor de casar a palavra "água"

com a palavra "vento" e a palavra "

"corpo" com a palavra"terra"

e a palavra "homem" com a palavra "sonho"

e a palavra "natureza" com a palavra "vida".

Foi assim, um pouco sem o querer,

um pouco sem o esperar, que usei

pela primeira vez a palavra "poesia",

que viaja comigo, companheira eterna,

para todos os lugares onde vou,

desde a memória do´homem

até aos últimos esconderijos da noite,

até ao fundo da claridade dos dias.


1 comentário:

Ines disse...

simplesmente brilhante :)