21 de março de 2009

AQUI NO POETA OU POETA ME APRESENTO


AUTOPSICOGRAFIA ( Fernando Pessoa)
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
na dor lida sentem bem,
não as duas que ele teve,
mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
gira , a entreter a razão,
esse comboio de corda
que se chama o coração.

ISTO (Fernando Pessoa)

Dizem que finjo ou minto

tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

com a imaginação

não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,

o que me falha ou finda,

é como um terraço

sobre outra coisa ainda.

Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio

do que não está ao pé,

livre do meu enleio,

sério do que não é.

Sentir! Sinta quem lê!

SER POETA (Florbela Espanca)

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

do que os homnes! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Áquem e de Álem Dor!

É ter mil desejos e o esplendor

e não saber se quer o que se deseja.

É ter cá dentro um astro que flameja,

é ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e cetim...

É condensar o mundo num só grito!

E, é amar-te, assim, perdidamente...

E seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!

PERDIGÃO PERDEU A PENA (Luís Vaz de Camões)

Perdigão perdeu a pena

não há mal que não lhe venha.

Perdigão que o pensamento

subiu a um alto lugar,

perde a pena de voar,

ganha a pena do tormento.

Não tem no ar nem no vento

asas com que se sustente;

não há mal que lhe não venha.

Quis voar a uma alta torre

mas achou-se desasado;

e vendo-se depenado,

de puro penado morre.

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