Era uma vez um livro de histórias cheio de letras como todos os livros. estava guardado na prateleira de uma estante, num armário ao fundo de uma casa e há muito tempo que ninguém lhe pegava para o folhear e o ler.
As palavras estavam para ali muito alinhadinhas mas fartas de estar fechadas nas páginas do livro, sem ninguém que as lesse e as dissesse em voz alto, e lhes permitisse espreguiçarem-se e darem uma voltinha para estender as pernas.
Não é de admirar que um dia, as letras que formavam a palavra borboleta tenham começado a tremelicar, a chocar umas com as outras e, de repente, a palavra borboleta tenha saído do livro a voar.
Atrás dela seguiu a palavra foguetão que não quis ficar para trás e, num instante, entrou em órbita.
Entusiasmada, a palavra canguru saltou de página em página até saltar também do livro para fora.
E muitas outras palavras seguiram este estranho exemplo.
A palavra cavalo lá se foi, naturalmente, a galope. A palavra fervura ferveu e desapareceu numa nuvem de vapor no ar. A palavra gelado derreteu-se. A palavra sapato disse que precisava de umas meias solas e pôs-se a andar.
Cada palavra lá foi andando da maneira que pôde. Mesmo palvras pesads como gordo, ou lentas como caracol, com maior ou menor dificuldade, acabaram por escapar do livro. E foi assim que, a pouco e pouco, as páginas foram ficando em branco e o livro vazio e sem histórias para contar.
No meio daquelas páginas todas só tinha ficado a palavra lápis que se sentiu muito triste ao ver-se ali sozinha.
Por isso, pôs-se a inventar uma história e começou a escrevê-la cheia de palavras redondas, quadradas e bicudas, umas mais magrinhas, outras barrigudas.
E escreveu palavras e palavras a rodo e, assim, acabou por encher de novo o livro todo.
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